Clube da literatura incentiva meninas na busca por histórias
Ciranda surgiu por iniciativa de mães das garotas e está formando leitoras apaixonadas
Clube tem objetos personalizados, e os encontros duram três horas
Ciranda. A cada rodada, uma descoberta: umas preferem livros grossos, outras, finos; algumas, suspense, outras, ação; mas entram em consenso
PUBLICADO EM 18/04/16 - 03h00
Joana Suarez
Elas são amigas, têm apenas 10 anos e respondem com segurança
sobre suas preferências: brincar, ler e jogar no tablet ou no celular. A
leitura – que normalmente não está no topo das escolhas da criançada – é vista
pelo grupo de meninas com prazer e alegria. Há dois anos, elas participam de um
encontro mensal que apelidaram de “ciranda do livro”. As garotas leem uma obra
e se reúnem para trocar histórias e exemplares, tal qual uma ciranda.
Sentada em roda com as companheiras, Helena Coutinho foi a última a descrever e
analisar o conteúdo escolhido por ela: “O Caso da Borboleta Atíria”. “É a
história de uma borboleta que nasceu sem um pedaço da asa e foi cuidada por uma
minhoca. Fala sobre seguir em frente mesmo diante dos desafios (...)”,
explicou.
O livro de Helena foi o que mais fez sucesso naquele encontro entre as meninas,
que precisaram decidir no “dois ou um” quem leria a obra na rodada seguinte.
Até que a garota proferiu o consolo: “Calma gente, vão ter outras cirandas, e
todas poderão conhecer o caso da borboleta”, afirmou.
Elas adotaram agora os livros da série Vaga-Lume, que as mães leram na
adolescência. Antes, as meninas se interessavam mais pelos vários volumes do
“Diário de uma Garota Nada Popular”, de “Judy Moody” e por outros do tipo, que
prendiam a atenção delas.
O “clube da leitura” – como os pais chamam o projeto –, surgiu por iniciativa
de duas mães. O propósito era estimular o gosto pelos livros. “Eu percebi que
minha filha não via graça na leitura. Nada que eu fazia adiantava”, expôs a
servidora pública Raquel Cristina de Sousa, 39.
Outra mãe, Adriana Souza, 43, contou que a filha mais velha, de 15 anos, já
havia participado de encontros de leitura. Logo, as duas trocaram ideias com
mais mães, e o primeiro encontro aconteceu em março de 2014 com seis meninas
que tinham, na época, 8 anos e estudavam na mesma escola.
Interesse. Atualmente, são oito garotas
– nem todas estudam juntas mais – e tem até “fila de espera” para entrar no
clube. “Outras meninas querem entrar, mas não dá para ter mais gente, porque os
encontros são nos apartamentos de cada uma, e é difícil controlar esse tanto de
crianças juntas”, disse a advogada Angélica Miranda, 31.
No dia da ciranda de livros, as amigas leitoras também lancham e brincam como
crianças. Empolgadas falam muito e ao mesmo. Todas querem contar suas
histórias. “Hoje, minha filha adora ler. Ela busca os livros na biblioteca,
pega emprestado ou pede para comprar. O clube mudou muito a visão da minha
pequena”, testemunhou Raquel, cheia de orgulho. Então, fica a dica para hoje,
18 de abril, quando se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil.
Obrigação
Diferença. No colégio, as meninas são obrigadas a ler
mais de 30 livros por ano, mas, nas palavras delas, “ler os livros que a escola
obriga é chato, porque tem que fazer resumo, e não dá prazer como na ciranda”.
Projeto reduz erros de português e ensina lições
As próprias meninas demonstram a transformação literária em suas vidas com o
clube: diminuíram muito os “x” (de erros ortográficos) que tinham nas provas”;
“agora, leio melhor (em voz alta) na frente da sala”; “a gente aprende muitas
lições, esse livro fala que mentira é ruim, o outro, que devemos ter cuidado
com as informações que divulgamos”, citaram quase que sincronizadamente.
A professora da Faculdade de Educação da UFMG Célia Abicalil diz que o contato
com as palavras faz com que se internalizem as estruturas complexas da língua
portuguesa. “A gente pensa que a escola é o grande mediador da leitura, mas,
quando os pais são bons mediadores, a leitura se torna uma forma dos filhos
compreenderem melhor o mundo, e o incentivo começa com 0 ano”.
Saiba mais
Baixo. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, em agosto de
2015, afirmou ser uma vergonha o Brasil ter um índice de 1,7 livros per capita
por ano. Ele defendeu que fosse feita uma campanha de incentivo.
Educação. A professora da UFMG Célia Abicalil desenvolve
o projeto Tertúlia Literária, que realiza encontros de leitura com professores
das séries iniciais de ensino para que eles se tornem bons leitores e possam
transmitir isso a seus alunos.
Participe. O Dia Mundial do Livro é comemorado no próximo sábado,
dia 23 de abril. E a Cultura Inglesa está recebendo doações de livros, para
deixar os exemplares em vários pontos de BH com uma mensagem especial, na sexta
e no sábado. Quem quiser doar, pode procurar hoje uma das filiais da escola.
Mais informações em culturabh.com.br.
Replique. A prima de uma das meninas que mora no interior
de Minas participou do último encontro do clube e saiu de lá querendo levar a
ideia para sua cidade.
Sentada em roda com as companheiras, Helena Coutinho foi a última a descrever e analisar o conteúdo escolhido por ela: “O Caso da Borboleta Atíria”. “É a história de uma borboleta que nasceu sem um pedaço da asa e foi cuidada por uma minhoca. Fala sobre seguir em frente mesmo diante dos desafios (...)”, explicou.
O livro de Helena foi o que mais fez sucesso naquele encontro entre as meninas, que precisaram decidir no “dois ou um” quem leria a obra na rodada seguinte. Até que a garota proferiu o consolo: “Calma gente, vão ter outras cirandas, e todas poderão conhecer o caso da borboleta”, afirmou.
Elas adotaram agora os livros da série Vaga-Lume, que as mães leram na adolescência. Antes, as meninas se interessavam mais pelos vários volumes do “Diário de uma Garota Nada Popular”, de “Judy Moody” e por outros do tipo, que prendiam a atenção delas.
O “clube da leitura” – como os pais chamam o projeto –, surgiu por iniciativa de duas mães. O propósito era estimular o gosto pelos livros. “Eu percebi que minha filha não via graça na leitura. Nada que eu fazia adiantava”, expôs a servidora pública Raquel Cristina de Sousa, 39.
Outra mãe, Adriana Souza, 43, contou que a filha mais velha, de 15 anos, já havia participado de encontros de leitura. Logo, as duas trocaram ideias com mais mães, e o primeiro encontro aconteceu em março de 2014 com seis meninas que tinham, na época, 8 anos e estudavam na mesma escola.
No dia da ciranda de livros, as amigas leitoras também lancham e brincam como crianças. Empolgadas falam muito e ao mesmo. Todas querem contar suas histórias. “Hoje, minha filha adora ler. Ela busca os livros na biblioteca, pega emprestado ou pede para comprar. O clube mudou muito a visão da minha pequena”, testemunhou Raquel, cheia de orgulho. Então, fica a dica para hoje, 18 de abril, quando se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil.
Diferença. No colégio, as meninas são obrigadas a ler mais de 30 livros por ano, mas, nas palavras delas, “ler os livros que a escola obriga é chato, porque tem que fazer resumo, e não dá prazer como na ciranda”.