4/11/2010
Leitura para o bebê favorece aprendizado
Contato com livros nos primeiros meses de vida faz vocabulário de criança ser 300% maior
Jaqueline da Mata - Repórter
RENATO COBUCCI
Hábito que vem de berço: bebês que têm contato com livros aprendem a comparar e a conhecer o mundo
Crianças que convivem com a leitura desde os primeiros meses de vida apresentam um vocabulário 300% maior que aquelas que não tiveram contato com os livros, ao chegarem na idade escolar. Aos 10 anos, então, as diferenças no desempenho são bem perceptíveis. A análise é do Instituto Alfa e Beto (IAB), de São Paulo, com base em estudos internacionais.
Segundo o presidente do IAB,
psicólogo e PhD em Educação João Batista Oliveira, durante a gestação, o
bebê aprende a reconhecer vozes, ritmos e, consequentemente,
características da língua que aprenderá a falar.
Já nas primeiras semanas de
vida, identifica textos e cantigas que a mãe costumava ler, recitar ou
cantarolar durante a gravidez. Alguns até param de chorar quando começam
a ouvir as histórias.
“Mesmo antes de aprender a ler, o
contato com a leitura feita por adultos ajuda a criança a aprender uma
linguagem diferente”, diz Oliveira. O estímulo vem do tom da voz, do
jeito como se conta a história e da forma como o livro é colocado para o
bebê. Todas são formas de interação.
De acordo com o psicólogo, os
livros desempenham funções diversas, que vão muito além de uma boa
narrativa. As obras introduzem diferentes maneiras de comparar e
apreender o mundo, já que os objetos reais são representados por meio de
figuras, palavras e sinais, dando início a formas variadas de
abstração.
Aos 6 e 7 meses de vida, o bebê
já consegue identificar figuras e reconhece o que já viu em alguma obra.
Com 1 ano, a identificação é com objetos e animais. Com 18 meses, as
onomatopeias – palavras que imitam sons relativos àquilo que representam
– já são bem entendidas.
"É importante manter uma
sequência, estabelecer um hábito diário. A repetição ajuda na formação”,
diz o especialista. Na fase seguinte, começa o enriquecimento com o
vocabulário e a sintaxe.
O psicólogo explica que a
criança está aberta ao aprendizado sobre o mundo. Tudo é novidade e os
livros permitem desenvolver um vocabulário muito mais amplo do que o
usado no cotidiano. “Nós pensamos a partir de conceitos, e as palavras
nos permitem pensar nos conceitos”, diz.
João Batista destaca que a
interação com adultos é fundamental para o desenvolvimento da linguagem,
e que o aprendizado se dá pela imitação. Mas a linguagem oral tem um
vocabulário restrito e uma sintaxe simplificada. “O livro, por mais
simples que seja, obedece às regras da linguagem escrita, que são as
mesmas que a criança vai encontrar na escola”, enfatiza.
As crianças começam a falar
entre 15 e 18 meses. Com um ano e oito meses, a diferença de vocabulário
entre elas varia de 200 a 600 palavras, dependendo do nível
socioeconômico das famílias.
Nos Estados Unidos, crianças com
4 anos, que vivem em lares carentes, têm vocabulário um ano e dois
meses abaixo das que vêm de famílias com renda mais alta. Os educadores
ressaltam que os livros e a leitura podem ajudar a reduzir essa
desigualdade social. A pesquisa aponta que uma criança, aos 3 anos, que
já tem o costume de leitura em família apresenta, aos 10 anos,
desempenho escolar superior ao das que não adquiriram esse hábito. Isso
ocorre em todas as classes sociais.
Livro ajuda criança a lidar com a emoção
Especialista em educação
infantil, a professora Denise Pimentel é enfática ao destacar que
crianças que tiveram estímulo da leitura, quando ainda eram bebês,
chegam ao maternal com um vocabulário mais rico e diversificado.
“O hábito é adquirido em casa e depois na escola. Aqui, introduzimos livros no berçário. Inicialmente os atrativos são as cores, o formato. São exemplares de papel, tecido e de banho. Deixamos num cesto e muitos engatinham até lá. No começo, os bebês chegam até a rasgar as páginas. Depois, começam a compreender para quê servem os livros. Mas é preciso um adulto para incentivá-los”, diz a educadora da Nossa Escola, na Região Leste de Belo Horizonte.
Para a professora, as
publicações vão muito além do desenvolvimento cognitivo: ajudam na
sequência lógica da história, na compreensão de valores e também na
parte emocional. Denise cita o exemplo de uma criança que estava tendo
dificuldade para aceitar a morte da avó, com quem tinha forte ligação.
“Foi por meio de um livro do Ziraldo, chamado “A Menina Nina: Duas
Razões Para Não Chorar”, que ela conformou-se”, diz.
A educadora lembra que as obras literárias permitem aos adultos conversar com as crianças sobre temas variados, possibilitando novas abordagens de assuntos do cotidiano. Segundo ela, a leitura traz sentimentos, medos, sonhos, emoções, opiniões e realidades que não estão no dia a dia da criança.
Como dica para orientar pais e
educadores, no site do IAB (www.alfaebeto.org.br), há uma lista com 600
nomes de publicações voltadas para bebês e crianças. As obras são
separadas por idades. A lista é chamada de Guia IAB de Leitura para a
Primeira Infância.
O catálogo foi desenvolvido com a
colaboração de especialistas e abrange literatura geral, literatura
infantil, ilustração, editoração, psicologia do desenvolvimento e
educação. O instituto conta também com a cartilha “Primeira Infância -
Primeiras Leituras”, que explica técnicas para se ler para bebês e
crianças até 6 anos,
com dicas sobre como interagir com elas de forma a estimular ao máximo o desenvolvimento de cada fase.
com dicas sobre como interagir com elas de forma a estimular ao máximo o desenvolvimento de cada fase.



