Desfecho conflita dramas de concursados e ex-efetivados
Profissionais que passaram em concurso contam a angústia de esperar por uma vaga que nunca chega
“Trabalhei dez anos. Em junho descobri um câncer. Faço
quimioterapia até dezembro. Em abril, faria outra cirurgia, mas tenho
medo de ter que interromper o tratamento. Vou tentar um concurso quando
ficar boa. O Estado dizia que não precisávamos de concurso e nos
acomodamos.” - Emanuelle Silva, 36, emitida pela Lei 10
“Sinto por quem perdeu o emprego, mas gostei da decisão do STF.
Passei no concurso, mas estou desempregada há dois anos. Tenho
esperanças de ser nomeada. O salário me faz falta. Meu filho de 8 anos
tem problema de crescimento. Um dos remédios custa R$ 1.200, dura 18
dias.” - Dheis Rodrigues, 34, concursada
PUBLICADO EM 31/01/16 - 04h00
Tâmara Teixeira
A pouco mais de uma semana do início do
ano letivo, marcado para o dia 11, Dheis, 34, e Emanuelle, 36, profissionais da
Educação de Minas, sabem pouco do futuro. A primeira, está desempregada há dois
anos, mesmo aprovada em um concurso público. Emanuelle também está. A partir de
amanhã, ela vivenciará uma experiência desconhecida há dez anos. Será o
primeiro mês, neste período, em que não terá salário. As duas enfrentam
problemas de saúde na família. O filho de Dheis precisa de remédios caros para
combater um problema de crescimento. Na casa de Emanuelle, é ela quem precisa
de atendimento, pois luta contra um câncer de mama.
As duas não se conhecem. Dheis vive em
Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, Emanuelle, em Betim, na região
metropolitana da capital. Ambas sofrem com as consequências, ou inconsequência,
da Lei 100, de 2007, considerada inconstitucional. Apesar de estarem igualmente
insatisfeitas, as duas são, em certa medida, concorrentes.
A professora Dheis Rodrigues está
entre os cerca de 86 mil classificados nos concursos de 2011 e de 2014 da
Secretaria de Educação que ainda não foram nomeados. “Estudei muito, investi. O
justo é chamar os concursados”. Mãe de três filhos, um deles com problemas de
saúde, ela não consegue ajudar em casa. “O remédio dele custa R$ 1.200 e dura
18 dias”.
Já Emanuelle Duarte Silva está entre
os quase 60 mil ex-efetivados pela Lei 100 que foram demitidos em dezembro,
conforme decisão do Supremo Tribunal Federal. A Corte ordenou que o governo os
substituísse por concursados. No entanto, não foram nomeados todos os
classificados que já passaram por provas, nem foram feitas novas seleções a
tempo para completar o quadro neste ano.
Os desdobramentos do imbróglio
desagradam aos dois lados. Pelas regras para designações, concursados – que
querem ser nomeados, e não trabalhar como temporários – têm prioridade no
processo. Já os desempregados da Lei 100 cobram que o tempo de serviço seja o
principal pré-requisito.
O desemprego não poderia ter chegado
em pior hora para Emanuelle, que em junho passado descobriu um câncer.
Os ex-efetivados têm direito ao
sistema de saúde do Estado, o Ipsemg, até 10 de fevereiro. “Meu tratamento vai
até dezembro. No SUS, vou ter que começar do zero e posso ficar sem medicação
por um tempo”, diz. Ela mora com o filho, de 3, e a filha, de 19, que hoje
sustenta a casa com o salário de R$ 900 que ganha em uma papelaria.
A professora Karina Santos, 28, passou
no concurso de 2011 e aguarda nomeação. Ela não deixou de trabalhar, pois
sempre conseguiu vaga como designada. “A vida de cigana, de todo ano ter que
procurar escola, é muito difícil”.
Dos seus 54 anos, Neiraildes Gomes
dedicou 23 às salas de aula do Estado. Faltando um ano para se aposentar, foi
demitida. Ela conseguiu uma vaga como designada, mas tem incertezas. Neiraildes
faz parte dos quase 800 ex-funcionários do Colégio Tiradentes, onde o salário é
maior do que o da rede estadual.
“Vai cair uns R$ 1.000. Em 2011, o
Estado mandou carta falando que não precisávamos nos preocupar, que tínhamos estabilidade”.
Outra queixa comum entre os atingidos pela lei é sobre o plano de saúde. “Vamos
perder o Ipsemg, que é melhor do que o SUS”.
Professores brigam por reconhecimento
Com 57 mil demitidos da Lei 100, as histórias se
multiplicam. Daniela Passos, 38, assim como milhares de colegas, entrou com um
processo contra o Estado, pedindo estabilidade e o pagamento do FGTS. O
Ministério do Trabalho cobra o débito acumulado desde 2007, que pode chegar a
R$ 1 bilhão.
“Tem prestação do carro, aluguel, fica tudo mais difícil”, lamenta, após 16
anos de trabalho.
Jussara Magalhães, 53, está entre as professoras da
Universidade do Estado de Minas (Uemg) que brigam por terem reconhecido um
processo de seleção que fizeram, no caso dela, em 1999, que não é considerado
como concurso.
“Depois de quase 30 anos, saio com uma mão na frente e outra
atrás”. Por meses, ela não irá se aposentar pelo Estado. “Terei uma perda de
40% no salário. Muitas vezes, a lei comete uma injustiça enorme”, diz com a voz
embargada.
“Sinto por quem perdeu o emprego, mas gostei da decisão do STF. Passei no concurso, mas estou desempregada há dois anos. Tenho esperanças de ser nomeada. O salário me faz falta. Meu filho de 8 anos tem problema de crescimento. Um dos remédios custa R$ 1.200, dura 18 dias.” - Dheis Rodrigues, 34, concursada
PUBLICADO EM 31/01/16 - 04h00
“Tem prestação do carro, aluguel, fica tudo mais difícil”, lamenta, após 16 anos de trabalho.