Alber F. Silva
Após uma tarde de relativo esforço dentro da sala de aula, muito embora um período muito proveitoso, um segredo me foi revelado por uma aluna : disse-me que uma colega estava grávida cujo fato em si já me deixara com o emocional um tanto abalado. Ela, percebendo a minha estupefação diante do fato , talvez para instigar ainda mais o meu espanto, provavelmente até mesmo como uma forma de ter a atenção do seu professor voltada quase que totalmente para si, disse-me ainda que sua colega tinha apenas treze anos de idade e o pai da criança, quatorze. A garota morava com o pai, sendo que a mãe abandonara a família para viver com outro companheiro e sem alternativa a colega iria abandonar a escola por não ter com quem deixar a criança que nasceria dali a alguns meses.
Depois de tudo o que ouvi e da qualidade da aula que sabia ter ministrado, haja vista a atenção e o interesse dos alunos pelo assunto , o que motivou a aluna a relatar o drama vivido pela colega, num relance eu senti cair uma ducha de água fria na minha animação e no meu entusiasmo mos instantes finais daquela aula quando tanto o professor quanto os alunos torcem para que o sinal retarde a bater, visando não quebrar a magia daquele momento, para ambos tão importante.Explico-me: naquele dia iniciei minhas aulas comentando sobre os filmes que havia assistido no final de semana os quais se referiam a Dalai Lama e Jesus Cristo , filmes esses que muito entusiasmam o espírito de quem se propõe a assisti-los.
Naquela tarde , em todas as turmas que entrei, procurei narrar de forma teatral o que havia sentido diante de tais pelicas. Relatei aos alunos episódios que são exemplos para uma vida mais saudável e mais feliz. Todos muito atentos, ávidos pela narrativa que aos poucos ia abrindo as cortinas e mostrando a história daqueles que viveram para nos dar esperança, ouviam atentamente o relatar dos fatos, querendo saber mais e mais. A cada pausa, diziam quase em coro:
“- Conta mais fessor !”
Tais atitudes me levaram a uma reflexão íntima onde pude compreender a necessidade que nossas crianças têm tanto de serem educadas com bons exemplos quanto por atitudes, gestos e realizações que lhes devolvam a alegria e a esperança, muito embora estejam ainda ensaiando os seus primeiros passos rumo à caminhada da vida.Tão raros como um grão de areia na praia são, durante o dia, na vida de nossas crianças, momentos de reflexão conjunta sobre os valores da humanidade e o verdadeiro sentido da vida, já que o restante do dia , de uma forma geral , sem que percebam, se deixam seduzir pelo extermínio de toda essa virtude!
Mais de 80% das nossas crianças consomem o seu tempo junto à televisão ou em frente a uma tela de computador , de onde partem todo o tipo de atentado à formação humana. Os programas de televisão adestram nossas crianças a serem consumidoras excessivas e não respeitarem os pais. Erotizam nossas crianças, vendem a idéia da fama e do sucesso fácil através de uma bela bunda, “ ...mas não se preocupe se você não tem uma bunda perfeita , o silicone faz todas as correções... ” dizem. E assim, durando a programação diária do amanhecer ao entardecer muitas são as programações líderes de audiência que saem da erotização e partem para o ataque ensinando um casal de namorados a ser feliz fazendo sexo desse e daquele jeito, e ainda: a terem filhos e convencerem os avós a cuidar do rebento, sem o mínimo pudor e respeito à pessoa humana!
Creio que muitas dessas crianças que hoje estão tendo suas vidas roubadas por essa falsidade televisiva e pelos diversos meios de comunicação da modernidade , a maioria constituída pelas classes desprovidas de quase tudo, até mesmo do direito à sobrevivência, se sentiriam mais felizes e realizadas se a mídia , ao invés desse mirabolante e ideológico poder manipulador, as orientassem em seus anseios mais íntimos sobre formação, caráter, personalidade, responsabilidade pelos atos praticados , honestidade, solidariedade,companheirismo, perdão...quesitos esses indispensáveis à formação do cidadão, cuja ausência vem aumentando aceleradamente a lacuna da existência humana tão jogada no vazio , tão em busca de si mesma, sem se quer poder ser condenada uma vez que a vida lhe negou o direito de amar e não faz outra coisa senão cobrar-lhe esse amor. Afinal, o que é uma vida sem amor???
Alber Fernandes e Silva
Diretor da E.E.Três Poderes - BH/NG