27/10/2009
PROFESSOR NOTA 100
Maria Luciene
Foto: Dulcinéa Said Callil
A publicação deste texto no jornal Hoje em Dia, em outubro de 2010, foi a forma que encontrei de homenagear a professora Dulcinea Said calil Pires, pelo Dia do Professor, por um motivo muitíssimo especial: na sexta-feira antecedente à semana do professor , conversávamos na sala dos professores sobre o desenvolvimento de projetos educacionais voltados para a formação da cidadania. Foi quando a professora me participou , um tanto emocionada, o resultado positivo de um dos seus projetos que foi levar os alunos do ensino fundamental à visitação a um presídio da grande BH. Surpresa diante da ousadia da sua iniciativa, quando percebi, já havia lançado a pergunta:
-Você teve coragem de fazer isso???
A resposta veio de imediato:
- Os presos não representam perigo algum...
-Interrompi-a:
- Não foi isso que eu quis dizer...É que me dói muito saber que enquanto seres humanos, uns têm direito à liberdade e outros são condenados a viver detrás das grades...
Diante da minha aparente sensibilidade e por que não dizer, de um certo desapontamento por acreditar ter sido mal interpretada ,gentilmente a professora Dulcinéa concluiu:
-Você já se perguntou por que está aqui hoje, nesta condição que você está? Será que não lutou para ter um futuro melhor? Pois é isso que eu quero mostrar aos meus alunos. A vida nos oferece dois caminhos e às vezes é necessário que estejamos de frente para a realidade, mesmo que esta seja árdua, para melhor decidir qual caminho escolher.
Continuou:
- Na ala feminina, fomos até os berçários e conscientizei todos os alunos sobre o porquê de aquelas criancinhas não estarem junto às suas mães, exceto na hora da amamentação.
A conversa rendeu por mais alguns instantes. Naquele finalzinho de tarde, após nos despedirmos, retornei para casa ainda muito presa àquela lição cidadã, que a minha fragilidade emocional não me permite aderir, pelo menos até o presente momento. À noite, assistindo a um telejornal , surpreendi-me com a matéria sobre a prisão de um assaltante, no centro de Belo Horizonte. Estremeci. Aquele jovem, aparentando menos de vinte anos,bem arrumadinho e um ar de gente pacata e reservada, havia sido meu aluno há alguns anos, no início da adolescência...
Jornal Hoje em Dia - 27/10/2009