8/06/2011
Namoro no trabalho
Relação amorosa com colega deve ser pautada pelo bom senso e comportamento adequado
Rosildo Mendes - Repórter
É permitido namorar colega de trabalho? Afinal, são muitas horas diárias de convivência, muitas vezes até mais tempo dedicado a eles do que à própria família. A professora de Administração em Recursos Humanos do Ibmec, Marta Demattos, analisa que em um mundo onde o encontro amoroso é cada vez mais difícil, as empresas, mesmo sem planejar, criam condições para as pessoas se conhecerem e, eventualmente, se envolverem. "Não há política empresarial capaz de impedir sentimentos", afirma, acrescentando que a justificativa é simples: homens e mulheres chegam a passar até 12 horas juntos todos os dias no trabalho e é até natural que surjam interesses afetivos entre eles.
Porém, alerta ela, namorar um colega de trabalho, superior, ou subordinado, requer extrema cautela, pois qualquer deslize pode custar o emprego ou o romance. Foi o que fizeram Lucília Vilarino, 22 anos, e o namorado Almir Santório Júnior, 29 anos, por aproximadamente um ano e meio, na empresa onde ela trabalha e ele trabalhou. Eles estão juntos há dois anos e meio. Lucília recorda que numa festa de final de ano conheceu o seu namorado. O casal escondeu a relação dos amigos e do chefe até que tiveram certeza dos sentimentos. Ela garante que há outros 10 casais que iniciaram o namoro na mesma empresa, do setor de tecnologia da informação. "Meu namorado saiu há um ano. A empresa é conhecida como uma organização casamenteira".
Na opinião do casal, assumir um relacionamento na empresa nem sempre é fácil. A saída, segundo Lucília Vilarino, é abrir o jogo com o chefe para evitar comentários maldosos pelos corredores. "É preciso manter uma boa imagem e um comportamento adequado. Isso não significa que o casal não deva se relacionar. O ideal é não ficar com intimidade na frente dos demais funcionários. O trabalho não é um lugar sagrado, mas merece respeito", afirma.
Mesma opinião tem a professora Marta Demattos, destacando que se o romance for inevitável, deve-se tomar cuidado: não é porque está apaixonado que vai esquecer das obrigações ou começar a trocar carinhos na frente do patrão. Segundo ela, em algumas empresas, não há uma proibição, mas as pessoas devem evitar a divulgação do relacionamento. "Claro que todos acabam percebendo, mas é melhor evitar comentários. Outra cautela é não usar em demasia telefones e formas de comunicação interna para ficar trocando recadinhos amorosos", avisa.
Outra orientação da especialista é que, antes de investir nesse tipo de relação, é preciso considerar algumas questões. Em primeiro lugar, a posição da empresa sobre o assunto. Muitas não aceitam relacionamentos entre colegas e chegam até a demitir os funcionários. Outras, não estabelecem normas quanto à questão, mas exigem produtividade de ambos.
Conduta tem regulamento
No Brasil, pontua Marta Demattos, entre as décadas de 1980 e 1990, a tendência a proibir esse tipo de envolvimento era mais forte. Atualmente, o que acontece é a empresa transferir um dos dois para outro setor. O advogado especialista em direito do trabalho do escritório Bernardes e Advogados Associados, Franco Maziero, concorda com a observação da professora e acrescenta que as organizações não estão legalmente respaldadas para inibir o namoro entre funcionários, nem podem demitir por isso. O que existe na lei é a figura da incontinência de conduta, que pode dar a justa causa para demissão. "A incontinência ocorre em situações extremas, como em comportamento obsceno ou pornográfico ou como ter relações sexuais no local".
Mesmo não podendo demitir, segundo o advogado, há empresas que têm regulamento interno de conduta, e o funcionário é avisado quando contratado sobre as normas da empresa: "Nessa situação, a proibição é legal". Reforçando a fala do advogado, Marta de Mattos afirma que não são poucas as empresas que têm atitude radical sobre relacionamentos amorosos no ambiente de trabalho.
Quando não há um regulamento proibitivo, de acordo com ela, é preciso saber qual a relação de trabalho é estabelecida entre o casal. As funções se interrelacionam? São do mesmo departamento? Segundo a professora, essas constatações são importantes porque interferem num possível término do relacionamento, e um final desastroso pode gerar ressentimentos, intrigas e agressividade no setor.
"Pode acontecer represália de ambos os lados, um pode não querer mais passar informações para o outro, por exemplo, o que prejudica a produtividade ". Na opinião da especialista, a postura do casal, bom senso e habilidade em separar o profissional do pessoal é requisito fundamental para não pôr o emprego a perder.