Carta-resposta ao artigo PROFESSOR GANHA MAL?, publicado na Revista Veja
O professor das redes municipal e estadual de Curitiba e co-autor do livro As Crônicas de Miramar: O Segredo do Camafeu de Prata, Wemerson Damasio escreve para o site uma carta-resposta ao artigo Professor ganha mal?, publicado na Revista Veja com data de 27 de julho de 2016 e assinado pelo economista Cláudio de Moura Castro.
Leia abaixo:
Carta-resposta ao artigo da revista Veja do dia 27 de julho, escrito por Cláudio de Moura Castro
por Wemerson Damasio
Essa foi mais uma semana de decepção e humilhação para os
profissionais da educação. As redes sociais foram bombardeadas com
sentimentos de revolta, ojeriza e tudo o mais que, no momento, pareciam
ser uma maneira de se defender e agarrar-se àquilo que desempenham com
tanto esmero.
O artigo de Castro, intitulado de “Professor ganha mal?”, induz o
leitor, que nem sempre tem consciência do que se passa em um ambiente
escolar, a imaginar que os professores reclamam de barriga cheia, que
possuem regalias que a maioria da população não as tem, dentre elas o
pouquíssimo tempo para a aposentadoria, assunto discutido nos últimos
dias pelo nosso Presidente interino. Mas não são das regalias e muito
menos da aposentadoria (que pra mim está longe e pelo andar da carruagem
tem ficado mais distante) que pretendo explanar, e confesso: a mim
falta conhecimento para tal. E não sou ignorante ao ponto de querer
explicar algo que não domino por completo. O que almejo neste momento,
não é atacar aqueles que recebem altíssimos salários sem ter que se
esforçar muito, é colocar algumas questões para reflexão.
A primeira que me vem a mente é QUAL O PROBLEMA SE NOSSOS
PROFESSORES GANHAM BEM? Quando tive acesso ao artigo, este foi o meu
primeiro questionamento. Qual o problema? O que tem de errado nisso? Uma
pesquisa recente demonstrou que os jovens não se interessam mais pela
licenciatura e se voltarmos um pouco no tempo lembraremos de alguns
comerciais de TV incentivando os jovens a escolher essa profissão. E
ninguém sai por aí incentivando as pessoas a escolherem uma determinada
profissão se ela não for de extrema importância. Mas ao que tudo indica,
para economistas como Cláudio, e insisto dizer, economista, e nesse
momento eu penso no que sempre digo aqui em casa: por que economista
gosta tanto de se meter em assuntos educacionais? E de novo eu me
pergunto: QUAL O PROBLEMA SE NOSSOS PROFESSORES GANHAM BEM? Afinal, são
eles os pilares de sustentação da educação das nossas crianças e
adolescentes, ganhando bem ou mal.
“Mas quem paga a conta?” o próprio autor questiona. Eu respondo:
como sempre somos nós. Nós que confiamos nossos filhos por algumas horas
nas mãos daqueles que se dedicam em ensiná-los e a cuidá-los. Nós que
saímos para trabalhar e confiamos que nossas crianças estarão bem
acolhidas no seio escolar. Nós que ignoramos os bilhetes enviados pela
escola e que não comparecemos às reuniões de pais. Nós que nos 45 dias
de férias e recessos natalinos entramos em pânico porque não temos com
quem deixar nossos filhos. Nós que reclamamos porque as aulas terminaram
mais cedo porque faltam professores. Nós que denunciamos escolas porque
não têm professores. Nós… Nós… Nós…
No entanto, o que se compreende pelo artigo, quem paga a conta é
somente você que não tem filhos, que não precisa, nunca precisou e
jamais precisará da escola. É você que tem um talento natural para
seguir sua profissão (Economia pode ser uma opção), que de maneira
alguma terá que passar por uma escola e ser ensinado por alguém. É
somente você. Neste país tão grande, é só você que pagará a conta, mesmo
com tanto autodidatismo.
Professor é aquele que escolheu por licenciatura. É aquele que,
mesmo nos momentos de lazer, pensa em seus aprendizes, seja num passeio
que poderia levá-los ou seja em um filme que poderia mostrá-los.
Professor não é alguém que faz bico ou se aproveita de todos os seus
títulos para ministrar em uma faculdade. Professor é aquele que acredita
fazer sua pequena contribuição para o crescimento de cada um de seus
estudantes. Professor é aquele que até hoje eu agradeço por ter me
ensinado. Não fosse a contribuição dos meus professores, as minhas
descobertas incentivadas por eles, tantos conselhos, tantos “é assim que
se faz”, tantos “você precisa melhorar”, com certeza não seria quem sou
hoje. E neste momento, eu me questiono, e você também deveria: QUAL O
PROBLEMA SE MEU PROFESSOR GANHA BEM? Eu não valho o tempo que ele se
dedicou a mim?