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terça-feira, 27 de julho de 2010

EDUCAÇÃO PELO EXEMPLO

Em latim , escola se traduz como "lugar de alegria"

Marly Moysés Silva Araújo - 16/04/2010

Os jornais e a TV dão, para desassossego geral, a dimensão do avanço do envolvimento de estudantes, cada vez mais novos, nas escolas públicas e particulares, em episódios de violência: brigas entre gangues, agressão a professores, trotes violentos, porte de armas de fogo, armas brancas e de drogas, enfim, situações de marginalidade que levam à conclusão de que, sem medidas afirmativas urgentes, sobretudo no campo da educação, os cenários serão não mais de amadorismo, mas de uma prática aprendida de atos delituosos que, por omissão da família, da escola e da sociedade, levarão crianças e adolescentes a um destino cada vez mais sombrio.

Estudiosos do assunto apontam a rápida e perigosa escalada de delitos envolvendo adolescentes como situação que levará, se nada for feito, à banalização da violência em todos os sentidos e setores da vida dos cidadãos, com desdobramentos imprevisíveis para o convívio social no campo e nas cidades.

O relato de uma psicóloga sobre o desabafo de uma mãe lavradora que se mudou de um povoado para a cidade grande ilustra a indagação contida no título destas notas: "Minha filha tem nove anos e era obediente, educada e até acanhada. Na roça era difícil trabalho e a gente veio para cá. Depois que ela entrou na escola, ‘virou’ outra. Xinga palavrão e até ‘puxou’ faca para o irmão. Eu acho que ela aprendeu isso na escola. Em casa é que não foi... A gente é pobre, mas só dá bom exemplo e bom ensinamento".

Dirigentes educacionais, educadores, pais, todos nós temos de nos dar conta de que o desabafo dessa mãe, chocada com a mudança no comportamento da filha, não é, infelizmente, um fato isolado. Ele acende o alerta vermelho quanto a delicadíssimas questões. A principal delas: o preparo da escola que temos para lidar com a complexa diversidade de situações que precisamos enfrentar para ofertar educação de qualidade para todos. Em sua simplicidade, a mãe lavradora deixa-nos uma sábia lição: a educação familiar de seus filhos, baseada no exemplo e no bom ensinamento. E na escola, educa-se pelo exemplo? Dirigentes, professores, funcionários são referência afirmativa, sempre, para os alunos? O olhar atento dos educadores acompanha, em todos os momentos, a participação dos alunos dentro da escola? Como é o convívio entre a direção, educadores, funcionários, alunos e pais ao longo do ano letivo? A escola conhece a história de vida dos alunos e de seus pais? Prioriza a formação integral do aluno ou apenas a instrução e a informação?

A escola não pode tudo sozinha. Cabe-lhe, no entanto, fazer tudo o que pode, cumprindo, ainda, o compromisso fundamental de manter diálogo permanente com a família, para conhecer melhor não só o aluno que tem, mas suas carências e os desafios a serem superados em sua formação. Em latim, escola se traduz como "lugar de alegria". Fazer dela uma saudável trincheira contra a violência em todas as suas faces visíveis e ocultas é dever de todos. Sem exceção.

Pedagoga - marlymoyses@gmail.com
Jornal O Tempo -16/04/2010