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terça-feira, 7 de setembro de 2010

CULTURA


Estudar música estimula o cérebro, diz pesquisa


Estudo feito com 38 pessoas indica que contato com notas e ritmos desenvolve a capacidade cognitiva

Flórence Couto - Repórter - 6/09/2010 - 21:50

Luiz Costa


Músico Rufo Herrera concorda que aprendizado ajuda desenvolver habilidades

Uma pesquisa realizada pela doutoranda em Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Carolina Oliveira e Rodrigues, mostrou que a música tem influência no desenvolvimento de capacidades cognitivas do cérebro, responsáveis pelo desenvolvimento da memória, da atenção, do raciocínio matemático e de capacidades verbais, por exemplo.

O estudo vem sendo realizado há dois anos e meio. Ana Carolina usou dois grupos de 19 pessoas cada, sendo que um deles era de músicos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais que, em média, começaram o aprendizado com 10 anos de idade. O outro grupo era formado por não músicos, que não poderiam ter recebido educação formal de música por mais de 2 anos e que não sabem ler partituras. A média de idade dos entrevistados é de 30 anos.

Segundo a pesquisadora, até agora, já foram verificadas diferenças entre os dois grupos. Quando foram colocados diante dos testes realizados, os músicos apresentaram maior porcentagem de respostas corretas e menor tempo de reação aos questionamentos. “Isso sugere uma maior capacidade de atenção visual, o que pode ser associada à prática dos músicos, que exigem atenção a diversos estímulos visuais”, afirmou.

O músico argentino Rufo Herrera, 77 anos, comprova que o estudo da música desenvolve habilidades. Ele começou o aprendizado aos 8 anos, tocando piano, violoncelo e bandoneón (principal instrumento das orquestras de tango, semelhante a um acordeão). Ele é autor de mais de 200 obras, dentre elas, quatro cantatas, cinco óperas e três bailados, além de obras sinfônicas e diversas peças de câmara para concertos de música erudita contemporânea.

Segundo o bandoneonista, é condição básica do estudo musical a percepção de alturas (sons graves, médios e agudos) e dos ritmos, que são divididos em tempos articulados matematicamente. Ao estudar, o músico começa a desenvolver o cérebro de forma a conseguir unir as duas capacidades cognitiva.

"O instrumento dá a possibilidade de você reagir simultaneamente com funções diferentes. Para desenvolver esse manejo é preciso muito treinamento das funções que são paralelas: vai ter a mão esquerda que toca os acompanhamentos e a mão direita que toca a melodia”, explicou o músico. O desenvolvimento do cérebro, porém, não é, para Rufo, exclusividade de músicos que estudaram em escolas. Aqueles que “tocam de ouvido” também conseguem desenvolver as habilidades dos demais músicos. A única diferença seria “teórica”, já que há músicos que, apesar de nunca terem entrado em uma escola de música, criam obras “fantásticas”.

“O que acontece com o aprendizado acadêmico é que o músico ganha um desenvolvimento técnico. Por exemplo, um compositor como o Milton Nascimento ou Caetano Veloso não sabe fazer um arranjo para orquestra. Tem que vir um maestro, pegar a música deles e escrever para cada instrumento, cada voz, registro, percebendo o que soa bem e o que soa mal”, contou Herrera