Ricardo  Bastos
Lina Patrícia deu mais liberdade ao primeiro filho mas foi rígida 
com o caçula

Tarefa desafiante é educar os filhos: dizer “não” quando necessário, determinar limites e impor respeito. Mas pai nenhum pode fugir dessa missão ou fazê-la com displicência, sob pena de ser responsável por formar crianças mimadas, rebeldes e despreparadas para a vida adulta. Problema que, nos dias de hoje, é mais comum do que se imagina, avaliam especialistas.
Para a psicóloga Ana Lúcia Naletto, autora de artigos sobre o tema, há um consenso entre os profissionais da área de que a autoridade dos pais tem perdido força. Vários motivos justificam isso. O principal deles, na opinião da especialista, é a supervalo rização da infância.
“O lugar das crianças na nossa cultura e sociedade vem mudando ao longo dos anos. De uma posição pouco privilegiada, tornaram-se o centro da família”. A maternidade tardia e a redução do número de filhos podem ter contribuído para esse fenômeno, ao transformarem a chegada de um bebê em um momento muito idealizado.
Com isso, avalia Ana Lúcia, os pais acabam dando muito poder aos filhos. “Antes mesmo que eles aprendam a distinguir as cores, já escolhem o tom dos brinquedos, as roupas que vão vestir e até mesmo o carro que a família irá usar para sair”. Habituados a controlar todas as decisões, questionam quando o comando está nas mãos de outra pessoa, como um professor.
A psicanalista Maria Cristina Capobianco, especialista no tema, percebe que os adultos são bons em aproveitar as “delícias” da maternidade, mas pecam na hora de ter pulso firme. Querem ser amigos e deixam de lado a função de educadores, o que, inevitavelmente, causa uma indisposição com os pequenos.
“Não estou defendendo o autoritarismo. Ao contrário, é saudável quando os pais dialogam com os filhos, sem necessariamente impor uma regra. Em alguns momentos, porém, é preciso ser mais exigente”, afirma a especialista.
Para evitar o conflito com uma criança, muitos cedem à tentação de transferir essa responsabilidade a terceiros. Em vez de falar que está na hora de ir embora do parque porque estão cansados, exemplifica a psicóloga Ana Lúcia, os pais dizem que “a moça do brinquedo quer dormir”. E, enquanto se escondem atrás dessas desculpas para não serem “maus”, perdem a chance de construir a imagem de autoridade a ser respeitada.
Adaptação às novas gerações
Até mesmo quem não é pai ou mãe de primeira viagem tem dúvidas quando o assunto é a educação dos filhos. Que o diga Lina Patrícia Rocha, de 40 anos, mãe de Lucas e Laura Rocha, de 12 e 3 anos. 
Com o primogênito, lembra, foi muito permissiva. Deu bastante autonomia ao garoto, só exigindo em troca bons resultados na escola. Para muitos pais, o método pode parecer arriscado, mas deu certo para Lucas.
A caçula, porém, tem exigido dela um novo comportamento. “A Laura é temperamental e me dei conta que vou precisar ser mais rígida. Com o Lucas, uma conversa bastava, mas ela é contestadora, gosta de me desafiar. Se eu não mudar a estratégia, posso estar prejudicando minha filha”, acredita.
O caminho a seguir ainda é desconhecido. Lina conta que, aos poucos, está redescobrindo uma nova forma de educar.
Adaptações na forma de criar uma criança são normais, segundo a psicóloga Ana Lúcia Naletto. As mudanças financeiras, na estrutura familiar, bem como o temperamento dos pequenos acabam interferindo no modo de educar.
As consequências para os filhos que cresceram sem limites e sem respeitar autoridades, continua ela, serão carregadas até a vida adulta. “Será um grande choque porque o mundo real é bem diferente daquele vivido na infância. Provavelmente, se transformarão em pessoas com dificuldade de lidar com frustrações e que não sabem conviver com os outros”, diz a especialista.