22/02/2015 08:16 - Atualizado em 22/02/2015 08:16
Estudantes mineiros saem da escola sabendo menos do que deveriam
Quase 90% dos estudantes mineiros teoricamente aptos a concorrer a uma
vaga na universidade não têm conhecimento adequado de matemática para
deixar a escola. Quando o assunto é a língua portuguesa, o problema se
repete. Praticamente 70% dos alunos matriculados no 3º ano do ensino
médio, em Minas, não dominam a leitura nem compreendem e interpretam
textos de maneira satisfatória.
Os resultados correspondem à pesquisa da meta 3 realizada pelo
movimento Todos Pela Educação e que estabelece: todo aluno com
aprendizado adequado ao seu ano de matrícula. O estudo, o mais recente
feito pela ONG e realizado em 2013, considera os resultados obtidos na
Prova Brasil e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(Saeb).
Os testes, ambos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), avaliam a qualidade
do ensino a partir de provas padrões e questionários socioeconômicos.
Os resultados apresentados pelos estudantes de Minas –matriculados em
instituições privadas e públicas – são igualmente ruins quando
considerados os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Nessas
etapas, o índice de adequação do aprendizado à série de matrícula foi de
25% para a matemática do 9º ano e de pouco menos de 55% para a mesma
disciplina no 5º ano.
Se os índices alcançados estão longe das metas intermediárias
estabelecidas para cada série e individualizadas por estado, mais
distantes ainda estão da meta proposta pela ONG para 2022. O objetivo é
que, até o ano do bicentenário da Independência do Brasil, pelo menos
70% dos alunos tenham aprendizado adequado ao ano de matrícula.
Essa tendência negativa, no entanto, vem sendo apresentada não só por
Minas, mas por grande parte dos alunos brasileiros, desde 2011. O
indicativo de falha, aponta o gerente de Conteúdo do Todos Pela
Educação, Ricardo Falzetta, é um conteúdo curricular inadequado na base
do ensino. “Precisamos levar em conta que o fundamental 2 (do 6º ao 9º
ano) é a etapa mais problemática. É por esse ponto, portanto, que as
mudanças devem começar. Temos um currículo do século 19 para uma
sociedade do século 21”, avalia.
Resposta
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que trata o
ensino médio como prioridade e que a atual gestão está fazendo uma
avaliação educacional criteriosa para propor estratégias que permitam
valorizar o ensino.
A gerente de Política Pedagógica e de Formação da Secretaria de
Educação de Belo Horizonte, Dagmá Brandão, admitiu que, apesar de um
avanço no ensino municipal nos últimos anos, o gargalo para os
estudantes continua sendo a matemática. “A capital tem melhores
resultados em português do que em matemática, mas, para avançar
igualmente, estamos investindo muito, desde a produção de material ao
incentivo de projetos diferenciados pelos professores”, afirma.
Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de MG (Sinep), Emiro
Barbini diz que a instituição incentiva os diretores a motivar os
docentes no sentido de dar mais oportunidades para uma aprendizagem
adequada. “Sabemos que estamos num país onde a formação dos
profissionais é muito deficiente. Nesse sentido, as escolas trabalham
atualizando os professores para alcançar resultados mais satisfatórios
entre os alunos”, diz.
Melhora da qualidade depende de mudança estrutural
Uma melhora na qualidade do ensino ofertado em Minas Gerais deve passar
pela formação dos professores e por uma mudança estrutural,
principalmente no que diz respeito à forma de educar, apontam
especialistas.
Doutora em antropologia e professora na PUC Minas, Sandra Pereira Tosta
acredita que para reverter os índices insatisfatórios da aprendizagem
de matemática no estado – disciplina com os piores resultados – é
preciso desmistificá-la e modificar a formação dos professores.
“Há uma certa desconsi-deração de que as dificuldades da aprendizagem
da matemática decorrem também do modo como se ensina a disciplina.
Precisamos entender que, assim como o português, ela é uma linguagem e a
mudança tem que começar pela formação dos docentes. É preciso adotar
uma formação de excelência sintonizada com os desafios que a sociedade
nos apresenta”, pontua.
PHD em educação, o psicólogo João Batista Oliveira, presidente do
Instituto Alfa e Beto (IAB), vai além. Para ele, os índices inadequados
de aprendizado entre estudantes de todos os níveis de ensino escolar
refletem um sistema com estrutura falha decorrente de decisões
equivocadas.
“Todo mundo quer colocar todos na creche, na escola em tempo integral, é
a filosofia da escolarização. De nada adianta, porém, tudo passar pela
escola se não temos condições de oferecer um ensino de qualidade”,
critica.
Segundo ele, é preciso modificar a base da educação e a forma de
repassar conhecimento, bem como incentivar uma melhor formação por parte
dos professores. “Se o salário é menor, atrai gente de menor nível de
qualificação. O problema nem é tanto de qualificação, mas da mão de obra
que chega. É preciso haver uma pressão muito forte para mudar. No
modelo atual, o fator crítico é ter um professor de excelente
qualidade”, afirma João Batista.