Letícia continua doce, meiga, carinhosa , atenciosa, prestativa,estudiosa e muitíssimo religiosa.
(...)
Elogiada pela beleza do nome, dizia naturalmente:
- Quando a
vovó se casou e ficou grávida, ela queria uma menina que iria se chamar Letícia...
só que veio o papai...
- Ah, o
Leonardo!
- É. Depois
a vovó ficou grávida de novo e continuava querendo uma Letícia... só que veio o
titio Leandro...
As moças
sorriam.
- Depois,
a vovó tornou a ficar grávida e quando ela pensou que ia ser uma Letícia, veio
o titio Luciano...
- Então a
Letícia não veio?
- Não. Só
que o papai casou e veio eu, então ele e a mamãe resolveram colocar o meu nome
de Letícia para agradar a vovó...
Completei:
-Você
nasceu no dia 29 de maio. Dia em que a vovó completava vinte e cinco anos de casamento... Esse foi o
presente de Bodas de Prata que Papai do Céu
pediu para o papai e a mamãe entregarem à vovó e ao vovô... Sua primeira
netinha, a Letícia que ela tanto sonhou ter!
-É.
As moças,
admiradas com sua desenvoltura ,
parabenizaram-na:
- Hum...
que história linda, Letícia!
Diante do
afável elogio se sentira ainda mais envaidecida e falante.
Embora
às vezes se pareça tímida, por onde
passa deixa os rastros da sua ternura, simpatia e encanto. É realmente
uma criança admirável!
Feita a pergunta se seria cruzeirense igual ao pai, a
resposta veio de imediato, acompanhada por uma espantosa interjeição:
-Credo!!!
Olhando para mim:
-Tia Lena , fala pra ela qual é o “nosso” time!
Todos os colegas de trabalho do pai acreditavam , até então, ambos torcerem para o mesmo time,
sendo mantido sobre um móvel, em um dos compartimentos da sua sala, ainda que
um pouco escondido, um porta-retrato com a foto da filha, com dois anos de idade, toda vestida a caráter. Bem que ele tentou, mas
não houve jeito. Antes de aprender falar
a palavra MAMÃE, seus lábios pronunciaram a palavra GALO. Lembro-me bem como
tudo aconteceu: Letícia iria completar um ano de idade. Era um final de tarde. Ela
e a mãe estavam na casa da vovó. Nessa época, moravam em um apartamento
pequeno. Sempre que eu confirmava presença, a avó, que não conseguia ficar muito
tempo longe da neta, ligava para a nora pedindo-lhe que levasse Letícia para eu
vê-la mesmo que por poucos instantes. Minhas visitas eram sempre muito rápidas
por morarmos distantes. Compareci
naquela tarde levando antecipadamente o seu presente de aniversário. Um
conjunto de moletom vermelho que lhe caíra muito bem.Vestida na roupa, rolando
na cama pra lá e pra cá,o assunto do momento era o início dos jogos da Copa do
Mundo de 2002. Ciente de ser o centro das atenções, paparicada pela avó e pela
tia, em dado momento pronunciou a palavra GALO. Surpreendemo-nos. Eu disse ter
ouvido GALO. Sua mãe e a avó deduziram ser GOL.Tão
pequenina e já demonstrando os primeiros sinais de haver herdado a herança
paterna, revelando uma forte personalidade, parou de rolar, se posicionando
seriamente a olhar para todas nós, enquanto pedíamos para repetir a palavra, o
que a fazia ficar ainda mais séria. Quando
novamente nos distraímos, voltando as atenções provavelmente tanto para
o assunto do momento quanto para a beleza da roupa que lhe caíra muito bem e
muito combinara com aquele início de
inverno, ela, parando de rolar na
cama, fitou-nos seriamente e repetiu em
um tom mais acentuado para que não houvesse dúvidas:
“-GALO!”
Surpreendemo-nos.
Letícia ainda não havia pronunciado uma palavra completa. Mesmo assim, insisti
com sua mãe:
-A criança
fica mais tempo com a mãe do que com o
pai. De gol para galo é um pulo! Não vá deixar escapar essa oportunidade!
A resposta
veio acompanhada por um largo sorriso:
-Pode deixar
comigo, tia Lena!
O
pai, que na época atuava como jornalista esportivo no Mineirão, levava-a aos
clássicos Cruzeiro x Atlético, sendo que
em um desses jogos de abertura permitiu que a filha entrasse uniformizada em
campo, amparada pelos amigos jogadores. Até festa de aniversário decorada com o
escudo do time paterno, seguida por um
painel com fotos de jogadores cruzeirenses paparicando a primogênita, foi-lhe
oferecida sem sucesso.Seu sangue é e continuará eternamente atleticano. Hoje, só
resta ao pai a terna ilusão de cultuar em seu escritório o porta-retratos com a
foto da filha,de azul e branco,sonho que ele muito gostaria que fosse realidade
Fragmento da obra "A Pureza de Um Anjo Muito especial"- Págs. 58/59
***
Não sei o que teria sido da minha vida se não fosse o apoio desse anjinho puro e especial, quando o Bom Deus resolveu levar a vovó para junto de si, no ano de 2008, deixando o meu coração encoberto pelo cinzento véu do -E agora? Terei forças para prosseguir???" Somente muita fé em Deus para não nos Deixarmos sucumbir.Não poucas vezes é preciso maquiar a dor da saudade e continuarmos a caminhada, na certeza do reencontro na Pátria Espiritual.Os nossos entes queridos nunca morrem; apenas partem antes de nós.
Letícia, aos seis anos de idade, fotografando para a capa do livro.
Letícia, aos seis anos de idade, fotografando para a capa do livro.