52%
dos docentes do ensino médio não têm formação na disciplina que lecionam
Por Ocimara Balmant | 10/04/2014 15:15 -
Atualizada às 10/04/2014 15:18 - Portal IG
Texto
A situação fica mais crítica está na área de exatas: em Física, apenas
19,2% dos docentes têm licenciatura na disciplina
Apesar de
as diretrizes curriculares do ensino médio preverem que cada disciplina deve
ser ministrada por professores licenciados naquela área, mais da metade dos
docentes dessa etapa não têm formação na matéria em que lecionam. Os dados são
do Censo Escolar 2013 e foram tabulados pela ONG Todos Pela Educação.
São
números que atestam uma realidade muito comum nas escolas do País, em que não é
raro encontrar um pedagogo dando aulas de Física e alguém formado em História
assumindo o conteúdo de Química. Segundo o levantamento, 51,7% dos docentes do
ensino médio no País estão nessa situação.
Numa
análise por disciplinas, dá para perceber com mais clareza os principais
gargalos. Se Língua Portuguesa - a matéria mais elementar e teoricamente com
abundância de mão de obra oriunda dos cursos de Letras - tem quase 30% dos
professores sem formação, a situação é muito pior na área de exatas. Em Física,
apenas 19,2% dos professores que atuam na área têm licenciatura no assunto. Em
Química o índice é um pouco maior, 32%.
“Dada a
centralidade do professor na aprendizagem, esses dados são muito preocupantes.
Como ter educação de qualidade com menos de 20% de professores qualificados?”,
questiona a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz.
"Isso pode explicar porque o ensino médio não tem avançado. Estamos no
mesmo patamar há 10 anos, apesar de o investimento per capita ter
dobrado."
Os
últimos dados do Pisa - avaliação internacional que mede o aprendizado de
jovens de 15 anos em Português, Matemática e Ciências - colocam o Brasil na 58ª
posição entre os 65 países participantes. O Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) do ensino médio é de 3,7, numa escola de 0 a 10.
Quem quer
ser professor?
Para os
especialistas, esse cenário que reflete a falta de interesse no magistério,
principalmente daqueles com expertises em assuntos muito demandados e bem
remunerados pelo mercado, como são os formados nas áreas de exatas. Enquanto o
mercado financeiro é conhecido por pagar altos salários, os docentes estão
entre os profissionais com curso superior mais mal pagos do País. Professores
recebem, em média, o equivalente a 52% dos rendimentos de profissionais de
outras áreas com a mesma escolaridade, segundo levantamento do Todos Pela
Educação.
Diante
disso, diz Priscila, o que as redes fazem é um exercício de "tapar
buraco". Muitas, até buscam uma solução menos drástica, como deslocar
professores de matemática para as aulas de física e química. Mas como também
não há docentes de matemática em abundância, a estratégia não é eficaz. Os
números do levantamento mostram que 63,4% dos professores de matemática têm
licenciatura no assunto.
"O
que me pergunto é quem são esses 50% que dão aula de uma disciplina para a qual
não têm formação? Será que não há mais temporários do que deveria?",
questiona a diretora do Todos Pela Educação.
Sim, há
temporários demais. Uma busca nos Diários Oficiais dos Estados mostram listas
de pedidos de exoneração ou de licença por doença. Em vários Estados, o número
de professores efetivos é menos da metade do que a rede necessita. O salário de
R$ 1.874,50 - rendimento médio de um um professor de Educação Básica
no País - não atrai gente interessada nos concursos.
"Apesar
de a legislação prever, esse cenário de desencanto com o magistério
mostra que nem sempre o desejável é possível. Gradativamente, as condições de
trabalho têm piorado. Daí, por falta de mão de obra especializada, as redes
fazem uma ponderação simples: é melhor ficar com os alunos na escola e ensinar
alguma coisa do que eles não aprenderem nada", afirma a professora Helena
Machado Albuquerque, da Faculdade de Educação da PUC.
Um
problema crônico, que tem impacto no desenvolvimento do País e cuja única
solução, alerta a diretora do Todos Pela Educação, é valorizar a carreira
docente e tornar a profissão atraente para o aluno do Ensino Médio.
Principalmente para aquele que gosta das disciplinas exatas, as que têm mais
carência.
Confira abaixo a porcentagem de
docentes com licenciatura em cada área
Disciplina
|
Total de docentes
|
Com licenciatura na área em que atuam
|
Brasil
|
613744
|
48,3
|
Português
|
84846
|
73,2
|
Matemática
|
74860
|
63,4
|
História
|
54893
|
58,1
|
Geografia
|
52347
|
56,8
|
Química
|
45619
|
33,7
|
Física
|
50802
|
19,2
|
Biologia
|
52722
|
51,6
|
Filosofia
|
45193
|
21,2
|
Educação Física
|
46080
|
64,7
|
Artes
|
45569
|
14,9
|
Língua estrangeira
|
60813
|
44,2
|
Os dados completos estarão
disponíveis no site do Observatório do PNE.