Número de notas zero em redação do Enem acende alerta
15/01/201
Marcelo Ribeiro/Tribuna de Minas
Luis ainda arruma tempo para a
leitura de livros, como o Código da Vinci
A explosão de notas zero na prova
de redação do Enem – em 2013 foram 106,7 mil candidatos, e no ano passado,
529,4 mil – lança um alerta para a necessidade de mudanças no aprendizado dos
estudantes. Especialistas em educação são unânimes em apontar que o baixo
desempenho comprova a incapacidade dos alunos em ler, interpretar e escrever
textos.
Os dados parciais do exame
nacional foram divulgados na última terça-feira pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Além da nota zero, o
rendimento médio na dissertação foi quase 10% pior na comparação com o ano
anterior. Em 2014, o tema da redação foi a publicidade infantil.
“O assunto cobrado na prova não
pode ser associado ao mau desempenho. Ao contrário, ele influencia na análise
das melhores notas”, aponta o pesquisador e autor de diversos livros e
monografias, Cláudio de Moura Castro. “O diagnóstico para quem zerou o teste é
simples: a pessoa não tem lido o suficiente. E a terapia para solucionar esse
problema também não é complicada, basta ler e escrever mais”, acrescenta
Castro, apontado como um dos mais renomados especialistas em educação do país.
Mesma opinião tem o mestre em
educação e professor do curso de pedagogia da Fumec, Aroldo Dias Lacerda.
“Escrever sobre qualquer tema e apresentar uma proposta envolvem interpretação
de texto. Só se consegue interpretar a partir da prática da leitura constante,
que vai além do material didático”.
Para Dias Lacerda, os ensinos
Infantil e Fundamental têm apresentado avanços no Brasil, mas o Médio carece de
melhorias. A solução, diz, passa por valorização dos profissionais e mudanças
na rede curricular. “É preciso aproximar a escola da vida real do estudante.
Isso ainda está muito desconectado”.
Poucos
Apenas 250 candidatos, no Brasil,
receberam nota máxima (1.000 pontos) na redação do Enem. Neste seleto grupo
está o estudante de Juiz de Fora, na Zona da Mata, Luis Arthur Haddad, de 19
anos. Aluno do colégio Santa Catarina, que integra a lista das melhores
instituições de Minas, conforme as últimas avaliações, ele conta que estudava
as disciplinas cobradas mais de dez horas por dia.
A preparação para a redação
também não foi fácil. Luis se matriculou em um curso específico de produção de
textos e redigia pelo menos dois todos os sábados. Amante da literatura, ele
ainda arrumava tempo para obras consagradas. Atualmente, lê o Código da Vinci,
de Dan Brown.
“Estava confiante que poderia me
sair bem, mas ter fechado a prova foi uma surpresa muito agradável”, conta.
Sonhando com uma vaga no concorrido curso de engenharia elétrica da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ele disse que vai aproveitar o
restante do mês para descansar e curtir a família, os amigos e a namorada.